I Tessalonicenses 4 e Dispensacionalismo


Por Marcelo Lemos

Um leitor nos envia o seguinte questionamento: “Em I Tess. 4, está escrito que os salvos encontrarão com o Senhor nos ares (mortos e vivos), isto é premilenismo e pretribulacionismo; mas há muita contestação, pois se alega que Cristo não poderia voltar várias vezes – onde está escrito na Bíblia que Jesus só vai voltar uma vez?”.

A pergunta certamente tem haver com os versículos 13 a 18, onde se lê: Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras”.

Este texto nos fala de dois eventos finais que aconteceriam a Igreja: a) a ressurreição dos cristãos mortos; e b) o arrebatamento dos cristãos vivos. Este texto, a princípio, não nos diz nada sobre as posições Pre-Milenista e Pre-Tribulacionista. A intenção de S. Paulo é confortar o coração dos cristãos para os quais escrevem, ao que parece, aquela Igreja estava sendo assediada por uma heresia que negava a ressurreição dos mortos. Então, Paulo responde: não deem ouvidos a este ensino, pois nossa fé baseia-se na ressurreição do Cristo, e se Cristo Ressuscitou, os mortos em Cristo ressuscitarão também.

Certamente, eles estavam apavorados com a ideia de que os seus mortos jamais veriam a vitória final da Igreja, que eles haviam morrido sem receber a recompensa que tanto esperavam. Por isso Paulo diz que eles seriam recompensados antes dos vivos: “Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro”. Estavam sendo ensinados – por algum herege daqueles dias - que seus mortos haviam perdido a recompensa, pois quando Cristo voltasse, estariam mortos; Paulo, porém, diz que justamente o oposto: já que morreram, se encontrarão primeiro com Jesus, pois o mortos ressuscitarão primeiro.

Então, este é o telos da perícope em questão, ou seja, sua intenção central. Nada no texto sugere que Paulo escreveu para ensinar que Jesus voltaria antes do Reino ser inaugurado (Pre-Milenismo), ou antes de haver uma Grande Tribulação (Pre-Tribulacionismo). Tais temas sequer são mencionados no texto, como podem conferir por si mesmos. Tudo o que Paulo está dizendo é que os mortos se encontrariam com Cristo primeiro, e que os vivos, se encontrariam com ele depois, por meio do arrebatamento.

Agora, sobre a questão de Cristo poder, ou não, voltar mais de uma vez, vale dizer o seguinte: para nós, preteristas, há, sim, duas “vindas” escatológicas de Cristo. A primeira vinda foi simbólica, em Juízo contra Jerusalém, em 70 d.C,; a outra, ainda futura, se dará de modo corporal, quando ele viver ressuscitar os mortos e transformar os vivos, na inauguração do Estado Eterno.

O problema com a posição Dispensacionalista é que ela se vê obrigada a aceitar várias ressurreições finais, e não apenas esta descrita nas Escrituras. Para sustentar o Dispensacionalismo, se precisa de várias ressurreições finais:

1) Os dispensacionalistas precisam de uma ressurreição de salvos antes da Grande Tribulação começar (aqui ressuscitam os salvos da 'Era da Igreja');

2) Os dispensacionalistas precisam de uma ressurreição de salvos no fim da Grande Tribulação (aqui ressuscitam os salvos que morreram na 'Grande Tribulação”);

3) Os dispensacionalistas precisam de uma ressurreição de salvos quando o Milênio acabar (aqui ressuscitam os salvos que morreram durante o 'Milênio').

Em quarto lugar, eles ainda precisam de uma Ressurreição Final para os condenados; ou seja, o dispensacionalismo acredita em 4 ressurreições finais. No entanto, isso contraria seu pressuposto hermenêutico principal, pois alegam a obrigatoriedade de interpretar as Escrituras literalmente. E é com base em seu apego a literalidade, que os dispensacionalistas ensinam que haverá duas ressurreições finais, a “primeira ressurreição”, para os salvos, na Vinda de Cristo, e a “segunda ressurreição”, para a Morte, na época do Julgamento Final. Entretanto, como acabamos de ver, aquilo que eles chamam de “primeira ressurreição” é, na verdade, três ressurreições, não uma.

De modo que, apesar de Paulo, no texto que comentamos na primeira parte deste artigo, não falar especificamente sobre estes temas, o fato de ele dizer que os mortos em Cristo ressuscitaram uma vez, e que os vivos serão transformados, e depois disso, “estaremos para sempre com o Senhor” (v.17), destrói completamente as teorias dispensacionalistas.

Aproveitando a oportunidade, quero responder aqueles que tem nos escrito perguntando sobre literatura preterista. Nossa visão sobre as profecias pode ser encontrada na maioria dos autores amilenistas e, especialmente, pós-milenistas. Na internet, recomendo, de modo especial, os links abaixo:





Aos novatos na matéria, vale alertar sobre a diferença entre o preterismo parcial (ou reformado), e o preterismo pleno (ou radical); para o segundo grupo todas as profecias já aconteceram; para nós, reformados, ainda restam o arrebatamento, a ressurreição final, a Segunda Vinda Corporal de Cristo, e o Estado Eterno.

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